quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Quando se tenta, por todos os meios, convocar um Encarregado de Educação e, finalmente, se consegue marcar uma reunião espera-se encontrar de tudo: pais que desconfiam dos professores, da escola, do sistema de ensino, do governo e do mundo em geral sempre que não lhes elogiem os seus rebentos e os não vejam com o mesmo olhar embevecido com que eles os vêem; ouvir a história pormenorizada de todos os elementos da família, até o tio-avô que esteve emigrado em França muitos anos; ver as receitas médicas ou as caixas de antidepressivos e ansiolíticos que a mãe toma diariamente; assistir à comparação que é feita do aluno em relação aos irmãos, primos e vizinhos; a responsabilização do pai, da sogra, da “professora primária” por tudo o que de negativo tenha ocorrido ou possa ocorrer no próximo século; a confissão da incapacidade de os auxiliar nos estudos ou de os educar; ouvir a frase recorrente “eu não sei o que lhe hei-de fazer!”.
Há, também, os pais que julgam terem sido convocados porque o filho cometeu algum delito muito grave ou, numa versão mais popular “fez m****”, como me foi dito com todas as letras e sem asteriscos.
Até ontem, nenhuma mãe me tinha dito que dava o filho se alguém o quisesse e muito menos me tinha sido sugerido que ficasse com ele por achar que eu seria a mãe que ele precisava. Nunca me ocorrera que poderia entrar na escola sem filhos e sair de lá com um filho adolescente nos braços.
Por vezes, julgo que me arrependi de ter conhecido esta mãe. Sentia-me mais feliz e mais leve enquanto ignorava o ambiente familiar desta criança. Sentia-me mais segura quanto à minha imparcialidade e quanto ao que lhe exigia em termos de empenho e postura presente e participativa. Não entendia, como entendo agora, que aquela criança evite falar com os pais nem que seja para lhes pedir que assinem um documento, muito menos para lhes pedir uma opinião ou ajuda; não entendia como entendo agora, que tantas vezes esteja ausente porque precise refugiar-se num mundo imaginário que criou para si, fugindo à realidade em que vive.
Mais uma vez, terá de ser a escola a cumprir o seu papel e também aquele que a família não consegue assumir. Mais uma vez, os impedimentos burocráticos farão com que o acompanhamento seja feito apenas com a boa-vontade e disponibilidade pessoal dos professores que, na sua maioria e por enquanto, não vivem apenas a pensar em níveis de sucesso e itens de avaliação e conseguem ver cada aluno como uma pessoa com características próprias e que pretendem ajudar a melhorar enquanto tal.