terça-feira, 27 de novembro de 2007


A propósito dos presentes de Natal ...


Não há dúvidas de que a relação que temos com os objectos é pessoal, distinta e bastante variável. Por vezes, pergunto-me se, nas novas gerações, os jogos de PlayStation, os telemóveis e os leitores de mp3 terão para os seus possuidores uma história como tem para mim cada uma das minhas bonecas, das minhas caixas e dos meus livros. No conjunto, perfazem um número bastante razoável mas são raros aqueles de que não me recordo como me vieram parar às mãos. São para mim muito mais do que simples objectos. Reportam-me para épocas, momentos, locais, pessoas, histórias. São pedaços de mim.
Em relação aos jogos de PlayStation tenho pouco a dizer, pois nas pouquíssimas tentativas (e pouco esforçadas, devo confessá-lo) que fiz fui vergonhosamente derrotada por uma criança.
(Silêncio para recuperar da frustração…)
Já no que se refere ao telemóvel não nego que me vale por uma vida e que poder fazer podcast dos meus programas de rádio preferidos para ouvir no iPod, quando tenho oportunidade, me dá imenso prazer. No entanto, não consigo estabelecer com estes objectos a mesma relação de afecto (unilateral, ok! Reconheço…) que tenho com “os outros”, “os meus”.
Estranhamente, esta relação de desapego acontece-me, também, relativamente aos CDs e DVDs, salvo algumas honrosas excepções, apesar de atribuir muita importância à música e ao cinema por conterem em si histórias e emoções capazes de me (sur)pre(e)nder.
Ao pensar nesta questão, apercebo-me de que muitas vezes nos esquecemos (ou não compreendemos) que aquilo que para uma pessoa é apenas um objecto, com maior ou menor utilidade e facilmente substituível por outro semelhante, mais moderno ou mais funcional, é para outra uma parte do seu mundo e, por vezes, indispensável à sua estabilidade, parte integrante do seu crescimento e da sua história de vida.
Nestes tempos de consumismo desmesurado e de prazeres imediatos, receio que se perca esta afectividade em relação ao que, embora podendo ser material, faz e é parte de nós.