quarta-feira, 26 de julho de 2006

saudade

“A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós.” (Mia Couto, O outro pé da sereia)

velhos são (só) os trapos?


Aos (alegados) eufemismos redutores e cheios de comiseração de alguns respondem outros com a rudeza das palavras, pretendendo mostrar igualdade.

Convencionou-se que “velhos são os trapos” e as pessoas de idade avançada não são velhas mas sim idosas.

Corrigiram-me, algumas vezes, e entendi que podia chamar velho ao armário ou a um brinquedo mas não ao tio-avô ou ao vizinho. Pareceu-me, por isso, sempre natural que se diga que faleceu, desapareceu ou se comemora o aniversário de um idoso de 98 anos e não de um velho da mesma idade.

Nos últimos tempos (leia-se anos) tenho ouvido ou lido muitas vozes dissonantes que consideram que usar o termo “idoso” é uma condescendência envergonhada de uma sociedade que maltrata os seus velhos. Estes usam “velho” como oposição a novo - o que me parece coerente - mas também como oposição a criança, adolescente ou adulto e a insistência em nunca usar “idoso” parece-me tão cruel, e ao mesmo tempo cheia de remorsos, como o desprezo com que o fazem os que procuram as palavras doces e politicamente correctas.

Vincent van Gogh. Old Man in Sorrow

segunda-feira, 24 de julho de 2006

silêncio

“O silêncio não é ausência da fala, é o dizer-se tudo sem nenhuma palavra”
(Mia Couto, O outro pé da sereia)

sábado, 22 de julho de 2006

Uma questão de fé



Noticiava o Courrier Internacional desta semana:

“… Cedendo à pressão da Igreja Católica, a companhia de seguros Britishinsurance.com rescindiu a apólice que garantia um milhão de libras (1,46milhões de euros) em caso de nascimento virginal. Três irmãs escocesas, quinquagenárias de Inverness, beneficiavam desse contrato havia seis anos. O prémio destinava-se a custear as despesas de educação de Cristo, se este renascesse.»


É omitido o valor que as clientes despendiam por este seguro que permitiria a Cristo usufruir de uma educação milionária e confesso alguma curiosidade. Ao mesmo tempo, interrogo-me se, neste caso, a companhia de seguros deveria ser acusada de burla ou se devemos compreender e aceitar tudo em nome da fé…
Mas uma certeza eu tenho: esta é mesmo uma daquelas ideias que não lembra a Cristo… apenas às candidatas a mãe.

Patri… quê?!?



Passados alguns dias da euforia do Mundial de Futebol, ainda se encontram resquícios da febre nacionalista que nos assolou, como ilustra um cartaz manuscrito exposto na montra de uma loja (cujos empregados são jovens que, certamente, frequentaram pelo menos o Ensino Básico) contendo a seguinte informação:

Bandeira de Portugual
a 3,99€

Ao gesto patriótico de vender (ou comprar) a bandeira nacional prefiro, sem dúvida, o dever patriótico de respeitar a Língua Portuguesa e escrever correctamente o nome do nosso país.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

defeitos e feitios

Cada-um-é-como-cada-qual-e-temos-de-entender-e-respeitar-as-personalidades-dos-outros-porque-nós-não-somos-perfeitos-nem-devemos-fazer-julgamentos-injustos-e-etecetera-e-tal.
Depois de anos a ouvir estas lengalengas bem intencionadas até acredito que se devem pôr em prática. Por vezes, até penso que consegui desenvolver alguma tolerância em relação aos tais “outros”. Mas só por vezes! É que para entender alguns preciso de recargas de tolerância! Suspeito que se vendam por aí algures, em algum supermercado, pois só assim é possível que haja quem sorria e rejubile quando solicitado a colaborar nas decisões e organização da vida alheia, mas ainda não as descobri nas prateleiras dos supermercados junto dos chás e ervinhas milagrosas.
Não consigo entender as pessoas que teriam capacidade para serem autónomas mas que gostam de mostrar que precisam dos outros (muitas vezes menos habilitados para opinar) em tudo o que fazem ou pensam poder vir a fazer: uma opinião sobre vestuário, uma boleia, uma receita culinária, um conselho sentimental, estacionar o carro, preparar um medicamento, decidir o jantar, costurar um fato de Carnaval, a educação dos filhos, decisão de voto, hora de levantar, cumprimento de rituais religiosos, canal de tv a assistir, marcação de consulta, a prenda a oferecer à prima que mais ninguém conhece, compra de medicamentos na farmácia, redacção de convocatórias e actas ou um simples postal de aniversário… a lista seria interminável… E isto tudo pedido a quem conduz por necessidade, não tem filhos e nunca preparou um medicamento para crianças, na cozinha e na costura situa-se pouco acima do medíocre, não gosta de dar palpite na vida alheia e principalmente não gosta que se metam na sua vida ou a chateiem com aquilo que não lhe diz respeito!

quinta-feira, 29 de junho de 2006

Verdade


Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho,
sua ilusão, sua miopia.

(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 25 de junho de 2006

de... passagem


Li há uns anos (muitos anos!) uma crónica que comentava o comportamento dos peões nas passadeiras. Nessa altura ainda eu não era condutora mas lembro-me que me diverti com a visão do cronista, que não recordo quem era, embora tenha suspeitas. Em traços muito gerais, dizia ele, que frequentemente o transeunte abranda o passo quando atravessa uma passadeira e faz tudo aquilo que não se lembra de fazer quando passa noutro local e a este propósito desfilava um rol de exemplos bastante caricatos.
Agora que sou condutora e que tenho uma visão privilegiada sobre o assunto, confirmo que o cronista exagerou muito pouco na sua descrição. Observo muitas vezes que o comum dos peões quando se encontra sobre a passadeira, com um ou vários carros e os respectivos ocupantes à espera que ele atravesse a via, se sente tomado de um tal poder que o impele a prolongar o mais possível aquela travessia. Frequentemente, fá-lo a olhar para o condutor com uma expressão de orgulho.
Também há os que correm na passadeira até terem a certeza que estão perante um veículo que parou para os deixar atravessar e nesse momento, talvez vencidos pelo cansaço, reduzem drasticamente o passo e o que era uma correria, certamente por pressa de chegar a algum local, se torna num descontraído e vagaroso passeio contemplativo.
Este prazer em atravessar quando se têm automóveis à espera é ainda mais notório em peões que aguardam pacientemente junto da passadeira enquanto olham para a esquerda e a direita, confirmam que não há qualquer vestígio de trânsito e permanecem quietos e ledos até que um carro se aproxima e só nesse momento resolvem atravessar, por vezes lançando um olhar ameaçador ao condutor como quem diz: “Calminha! Nem te atrevas a avançar que agora passo eu!!!” - assim mesmo neste tom, pois, como toda a gente sabe, em discussões as ameaças ocupam o lugar das fórmulas de delicadeza e é tudo “tu cá, tu lá”.
Este comportamento terá, certamente, uma explicação psicológica quiçá sociológica. Sendo áreas que não domino, não me atreverei a tecer teorias… Suspeito mesmo que haverá alguma comissão a quem tenha sido atribuída essa tarefa, mas não deixa de ser um comportamento que me diverte... ou que me irrita, consoante o estado de espírito do momento.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Respondendo à questão do dia



Não, não vou deixar de trabalhar
nem alterar a minha agenda
para assistir ao jogo de futebol





Dúvida metódica


Quando somos mais sinceros?

- quando num acesso de fúria proferimos palavras duras com o intuito de ferir

ou

- quando acalmamos as emoções, organizamos os pensamentos e medimos as nossas palavras sem esquecer o efeito que podem provocar?


terça-feira, 20 de junho de 2006

TPC - tempo para convívio

O Ministério da Educação propôs que os trabalhos de casa sejam realizados na escola e os pais e encarregados de educação aplaudiram. Todos alegam razões muito nobres:
- terminar com um factor de discriminação, pois há crianças cujos pais não têm capacidade para fazer o acompanhamento das tarefas escolares;
- maior competência dos professores para a realização desta tarefa, nomeadamente, no que respeita à aquisição de métodos de estudo adequados;
- evitar a sobrecarga das crianças que, após um dia aulas e frequentemente outras actividades extra-curriculares, chegam a casa extenuadas;
- dar às famílias a possibilidade de usufruir de um tempo de qualidade com os filhos, evitando o desgaste que a realização conjunta dos trabalhos escolares provoca.
À primeira vista, até parecem boas razões para que os malfadados trabalhos sejam realizados na escola mas esse tempo que passa a estar à disposição das famílias para convívio familiar será, de facto, aproveitado? Ou será apenas mais tempo dedicado às telenovelas e ao futebol, por parte dos pais, e à PlayStation, aos Morangos e às conversas em chats, por parte dos filhos? É inegável que esta situação simplificará a vida aos encarregados de educação que deixarão de ser alertados para o facto de os filhos não realizarem os trabalhos de casa. É óbvio que muitas famílias aproveitarão para se sentirem ainda mais desresponsabilizadas se a criança não está a responder de forma positiva às aprendizagens. Afinal… essa responsabilidade cabe à escola… Quando penso nesta questão, não consigo deixar de estabelecer um paralelo com os casais divorciados. Passo a explicar.
Toda a gente conhece as queixas de uma mãe divorciada que trata da educação do(s) filho(s) sozinha e que embora solicitando a presença ou ajuda do pai não vê este pedido realizado mas que se confronta com a felicidade do filho que, após ter sido deixado esquecido durante semanas, entra em casa radiante com a bicicleta nova que o pai lhe ofereceu. Aquela bicicleta que a mãe tencionava oferecer apenas no próximo Natal, se o comportamento e o aproveitamento escolar fossem merecedores, mas que o pai lhe ofereceu apenas para se redimir das suas ausências.
A escola passará, desta forma, a ser a mãe presente que exige, que educa, que ensina que é preciso esforço para merecer aquilo que se deseja. A família continuará a ser eternamente o pai ausente que apenas quer saber as notícias felizes, que oferece prendas, que dá a ilusão de que tudo se alcança sem que seja necessário lutar para isso.
Será desta forma que as crianças se aproximarão da essência da escola e atingirão todos os ensinamentos que se pretendem transmitir? Não creio…
foto de Robert Doisneau

E se me bastasse...


E se me bastasse…
… admirar o azul do céu…
… sentir na pele o calor do sol…
… deixar-me embalar pelo bater das ondas…

E se me bastasse…
… respirar o aroma das flores…
… escutar o som do vento nas folhas…
… contar as estrelas que me servem de tecto…

E se me bastasse…
… imaginar-me a sonhar sobre as nuvens multiformes…
… sentir o cheiro da terra molhada…

E se me bastasse…
… viver cada momento sem me refugiar no “antes” e sem temer o “depois”?


segunda-feira, 8 de maio de 2006

Sabedoria impopular 4



Quem espera…
… (nem) sempre é alcançado
.


(foto de Henri Cartier-Bresson)


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Pergunto-me...





... se a capacidade de voltarmos a acreditar depois de nos desiludirmos é, de facto, inesgotável.



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Sabedoria impopular 3



Quem diz a verdade...
... nem sempre é entendido...


(Despair, Edward Munch)




terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

quase podia ser uma piada...



- "Setôra", o que significa souvent, na segunda linha?
- Está no vocabulário, no fundo da página.
- (ar profundamente surpreendido) Isso tudo?!? Espere um bocadinho, "setôra", para eu ter tempo de escrever!



domingo, 5 de fevereiro de 2006

Pequeno contributo linguístico




Presente do Indicativo do verbo “ensimesmar-se”

Eu enmimmesmo-me
Tu entimesmas-te
Ele ensimesma-se
Nós ennosmesmamo-nos
Vós envosmesmais-vos
Eles ensimesmam-se

E agora para dizer mais rápido, o Presente do Condicional

Eu enmimmesmar-me-ia
Tu entimesmar-te-ias
Ele ensimesmar-se-ia
Nós ennosmesmar-nos-íamos
Vós envosmesmar-vos-íeis
Eles ensimesmar-se-iam


Hoje enmimesmei-me e deu-me para isto...



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

a contar os minutos....

... que me separam do fim-de-semana...


Foto de Robert Doisneau

terça-feira, 31 de janeiro de 2006

o meu mundo vazio de palavras



Com alguma frequência passo pelos meus momentos de silêncio. São momentos em que me distancio das palavras, sejam pela via oral ou escrita, sejam proferidas por mim ou apenas escutadas na voz dos outros. Todas me incomodam igualmente. Invento dores de cabeça que não tenho ou preocupações banais que não me ocupam para justificar a ausência ou para evitar um assentimento sorridente ao que me dizem mas não escuto. Todas as vozes me agridem por exigirem uma atenção que não lhes quero dar. Até a leitura, que tantas vezes é o meu único refúgio e apetecida companhia, me incomoda porque me distrai de mim. Perco-me no tempo que só vejo passar enquanto conto os minutos que faltam para que me seja possível reconstruir o meu muro e estar a sós comigo e o meu mundo vazio de palavras.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Vou comprar o Ronaldinho!

Não, não sou fanática por futebol. Aliás, o futebol não me interessa minimamente e o único que sei em relação a este desporto é que se pretende marcar golos na baliza do adversário. No entanto, não entendo que esta razão seja suficiente para andarem 22 homens a correr entusiasticamente atrás da mesma bola. Para ser franca, nem acho correcto que só haja uma bola para todos. Penso sempre para comigo que seria muito mais justo e agradável, para jogadores e público, se houvesse 22 bolas em campo. Cada jogador teria a sua, o que significa que cada um deles jogaria muito mais e teria mais possibilidades de se exibir, justificando desta forma os chorudos ordenados que auferem e a multidão de fãs que mobilizam. Desta forma não seria um desporto de equipa??? Pois é! Distracções de uma individualista assumida…
Porque vou, então, comprar o passe do Ronaldinho? Li na revista Visão da última semana que o prémio do euromilhões, na altura era de 125 milhões de euros, daria para
a) pagar 12,5 vezes tudo o que os candidatos presidenciais gastaram, em conjunto, nesta campanha eleitoral;
b) comprar a Casa da Música;
c) comprar o Estádio do Sporting;
d) pagar o empréstimo do Banco Europeu de Investimento à Hungria, para a modernização das redes de transporte e de distribuição de electricidade no país;
e) comprar o passe do Ronaldinho.

Analisemos cada uma das hipóteses.
a) as presidenciais ficaram resolvidas à primeira volta. Só haverá novas eleições presidenciais daqui a cinco anos e não me apetece ter o dinheiro parado tanto tempo.
b) a casa da Música vi-a uma vez. A uns metros de distância não me pareceu mal. Mas supõe-se que a Casa da Música contribua para a vida cultural do país e em particular do Porto, não é? Vida cultural? O que é isso? Para quê? Para quem?
c) quanto ao estádio do Sporting, muito francamente, não me apeteceria ter de investir na recuperação dos estragos provocados pelos adeptos leoninos e das equipas adversárias, após cada jogo.
d) dívidas da Hungria?!? Só conheço Budapeste das brochuras das agências de viagens ou do livro homónimo de Chico Buarque. Não tenho nada a ver com isso!
e) por exclusão de partes, e sem qualquer argumento válido devido à minha ignorância no ramo, resta-me comprar o passe do Ronaldinho e acreditar que farei um bom negócio.

Mas antes, não posso esquecer-me de jogar!


dúvida...


Com tanto que se fala das presidenciais e tantos esforços que se fazem para entender os resultados eleitorais e fazer futurologia, surge-me uma dúvida: alguém fez um estudo que indique qual a percentagem de eleitores que exerceu o seu direito de voto, suficientemente, esclarecida e sabendo de facto o que estava a fazer?

amanhecer


Abri a janela e, do outro lado, encontrei para me receber um dia opaco e sem vida. As casas e as árvores de contornos indistintos adquiriram por osmose o tom cinza e baço que as rodeia. Receei integrar-me naquela paisagem unicolor e tristonha. Fechei a janela e rodeei-me de luz, cor e música, criando uma barreira fictícia entre o meu espaço e o mundo exterior.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Sabedoria impopular 2




O que os olhos não vêem...
... o coração pressente.


domingo, 22 de janeiro de 2006

véspera de segunda-feira

fotografia de Robert Doisneau

sábado, 21 de janeiro de 2006

na vida como num filme

Por vezes imagino a minha vida como um filme que está a ser rodado e exibido em tempo real.
Nesse filme há um narrador omnisciente que conhece e dá a conhecer todas as situações, sem omitir qualquer pormenor. Conhece-me perfeitamente e também a todas as personagens que comigo contracenam. Conhece os nossos defeitos e qualidades, os nossos vícios, sonhos, medos e ambições. Sabe quais são os nossos sentimentos e pensamentos mais secretos. Muitas vezes, compreende aquilo que não entendemos ou que recusamos entender.
Quem assiste ao filme sabe quem são os bons e os maus, os hipócritas e os sinceros, quais as razões que nos movem, onde estão a mentira e a verdade. Sabe quando temos ou não razão, quando somos injustos, quando magoamos ou quando nos arrependemos desnecessariamente. Vê os nossos desencontros, as oportunidades que desperdiçamos, torce por nós e por vezes sussurra-nos, inutilmente, que caminho devemos seguir.
De tempos em tempos, acontece-me querer sair da tela e sentar-me por alguns minutos no meio do público anónimo. Assistir ao filme, apoderar-me do conhecimento que me falta e depois correr para dentro do ecrã e ocupar o meu lugar para que o filme tenha um final feliz.


poema cantado



Bom conselho

Ouça um bom conselho
Que lhe dou de graça
Inútil dormir
Que a dor não passa.
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado
Quem espera nunca alcança

Ouça meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com o meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai ao longe
Eu semeio o vento na minha cidade
Vou p’rá rua e bebo a tempestade.


Chico Buarque de Hollanda