terça-feira, 11 de dezembro de 2007

ele há pais natais e pais natais...
Comecei por vê-la sentada, numa cadeira, ao sol.
O local – um troço que segue a partir da estrada principal – não me pareceu estranho. Deduzi que viveria em alguma casa situada atrás do arvoredo. Já me habituei a ver, por estes lados, casas nos locais mais estranhos e improváveis, aos meus olhos.
Nas minhas passagens regulares, acontece encontrar a cadeira vazia e abandonada. Sempre julguei que estaria a arrumar a casa ou a preparar o almoço familiar. Geralmente, está a fazer chochet ou tricot, noutros dias parece estar a ler revistas. Imaginei que faria botinhas para os netos ou naperons para oferecer às filhas e noras, no Natal.
Quando os dias deixaram de ser quentes e solarengos continuou sentada no mesmo lugar e só então reparei na escassez de vestuário, nada usual numa avó comum.
Apercebi-me da minha ingenuidade que pensava já perdida, mas que teima em não me abandonar, e entendi que aquela “avozinha” apenas está ali a matar o tédio entre “prestação de serviços” aos viajantes.
Esta semana, impulsionada por um qualquer espírito natalício, estava (semi)vestida de pai natal. Um pai natal sem barba e sem calças.
Preocupei-me. Depois de uma invasão de quadrilhas de pais natais que escalam prédios e entram pelas janelas, aparecerá agora uma nova vaga de pais natais que se prostituem? Desta forma, não há imaginário natalício que permaneça incólume.