Excerto de uma deliciosa crónica de Carlos Drummond de Andrade
Calça literária
“É assíduo leitor de blusas, camisas, saias, calças estampadas. Não lhe escapa um exemplar novo. Parece desligado, e observa tudo. Segundo ele, as peças de indumentária, masculina e feminina, ostentando símbolos e nomes de universidades americanas, manchetes, páginas de jornal, retratos de Pelé e Jimi Endrix, apelos ao amor que não à guerra, etc…, há muito deixaram de ser originais. Constituem invólucros rotineiros de pessoas de qualquer idade. A gente estranha é uma camisa inteiramente nua de dizeres ou figuras, a roupa que não diz nada, só roupa. Hoje, lê-se mais nos tecidos do que nos livros, e não é ler apenas, é ver cinema e televisão, pois os corpos ao se moverem, dinamizam as figuras estampadas, o que, de um modo ou de outro, contribui para a cultura de massas. Informa:
- Estou pensando em aproveitar esse material para fins especificamente didácticos. Através dele ensinar Geografia, História, Matemática, Medicina de Urgência, Imposto de Renda, Ortografia Desmistificada, essas coisas. O indivíduo cobre-se e vai distribuindo ciência. Ou aprendendo. Vinte minutos no ónibus – que aula! Classes ao ar livre, na feira, na fila. Escola dinâmica. (…)” Carlos Drummond de Andrade, in Para Gostar de Ler