domingo, 26 de agosto de 2007



Excerto de uma deliciosa crónica de Carlos Drummond de Andrade






Calça literária



“É assíduo leitor de blusas, camisas, saias, calças estampadas. Não lhe escapa um exemplar novo. Parece desligado, e observa tudo. Segundo ele, as peças de indumentária, masculina e feminina, ostentando símbolos e nomes de universidades americanas, manchetes, páginas de jornal, retratos de Pelé e Jimi Endrix, apelos ao amor que não à guerra, etc…, há muito deixaram de ser originais. Constituem invólucros rotineiros de pessoas de qualquer idade. A gente estranha é uma camisa inteiramente nua de dizeres ou figuras, a roupa que não diz nada, só roupa. Hoje, lê-se mais nos tecidos do que nos livros, e não é ler apenas, é ver cinema e televisão, pois os corpos ao se moverem, dinamizam as figuras estampadas, o que, de um modo ou de outro, contribui para a cultura de massas. Informa:
- Estou pensando em aproveitar esse material para fins especificamente didácticos. Através dele ensinar Geografia, História, Matemática, Medicina de Urgência, Imposto de Renda, Ortografia Desmistificada, essas coisas. O indivíduo cobre-se e vai distribuindo ciência. Ou aprendendo. Vinte minutos no ónibus – que aula! Classes ao ar livre, na feira, na fila. Escola dinâmica. (…)” Carlos Drummond de Andrade, in Para Gostar de Ler







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