quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

É inevitável...

Situação 1

Depois de fazer as compras dirijo-me à caixa para pagar. Há duas filas, uma com três pessoas e outra com cinco. Obviamente, dirijo-me à caixa que tem a fila menor e espero pacientemente. A pessoa que está a ser atendida usa um vale de desconto. A funcionária demora algum tempo a introduzir os dados. O cliente seguinte reclama porque o preço registado na máquina é superior ao indicado no expositor. A empregada chama o responsável pela secção. O tempo passa… Chega o responsável, pega na caixa e vai confirmar o preço no expositor.

As cinco pessoas que estavam na outra caixa já foram atendidas e algumas que chegaram posteriormente também.

Na minha caixa a fila aumenta. Abre uma terceira caixa e é dada a indicação de que os clientes deverão ser atendidos pela ordem em que se encontram. Um espertinho que estava atrás de mim não respeita esta indicação e acaba por ficar à minha frente, mas não reclamo, afinal só tenho de esperar que duas pessoas sejam atendidas. O papel da máquina registadora termina. A empregada tenta colocar o rolo novo mas não consegue e acaba por pedir ajuda a uma colega.

Na caixa ao lado o problema do preço errado já foi solucionado e não consigo deixar de olhar com raiva para a pessoa que está a ser atendida e está no local onde poderia estar eu… se não tivesse mudado de caixa.

A questão do papel já foi resolvida. A pessoa que está à minha frente - o espertinho - já está a ser atendida. Fez uma devolução e quer utilizar o respectivo vale para pagar a despesa desse dia. A empregada chama o responsável. Arrependo-me de não ter reclamado quando me passou à frente. Está no “meu” lugar com a agravante de mo ter roubado.

Na caixa onde eu estava inicialmente tudo parece correr às mil maravilhas: não há vales de descontos, não há devoluções, não há falta de papel, não há enganos nos preços, nem sequer há problemas nos pagamentos com Multibanco.
Todas as pessoas que estavam na primeira caixa, que eu preteri, foram atendidas há imenso tempo e nem se vislumbra delas o mais breve sinal. Penso que devem andar satisfeitas com as suas compras e com a rapidez do atendimento e este pensamento enfurece-me mais.

Passam alguns minutos que me parecem horas. A situação do espertinho é resolvida e sou finalmente atendida. Saio a pensar que não volto a deixar-me enganar.


Situação 2

Mais compras. Novos pagamentos. Duas caixas. Uma com cerca de quatro ou cinco pessoas. A outra com mais duas ou três. Desta vez não me vou deixar enganar! Vou para a fila que tem mais gente. Sinto os olhares espantados dos clientes que estão na fila menor. Uma senhora de idade que chega pouco depois pergunta-me se a outra caixa vai fechar. Eu digo-lhe que não mas não lhe revelo o que só eu sei: aquela caixa tem mais gente mas vai ter um atendimento muito mais rápido. A senhora ainda hesita mas vai para a fila menor. Na “minha” caixa há atrasos que não entendo bem. Creio que se trata de enganos nos códigos do Multibanco, pagamentos com cheque ou produtos que não foram pesados ou perderam o preço.

Na outra caixa tudo decorre com normalidade e maior rapidez.

Ainda penso em mudar mas tenho a certeza que não o devo fazer. Mantenho-me confiante, a fila que parece menor e mais rápida é sempre a mais demorada. Sempre. Não há excepções.

A senhora que me tinha questionado sobre o fechamento da caixa acabou de ser atendida. Enquanto coloca os últimos produtos no saco olha para mim e sorri. Acredito que seja um sorriso de simpatia mas, no momento, parece-me um insulto.

Tenho duas pessoas à minha frente. Ocupo o tempo a tentar adivinhar o que irá acontecer com os dois clientes que falta atender: será a máquina que encrava? A senhora loira ter-se-á esquecido de pesar os legumes? O senhor de barba terá reclamações a fazer? Não haverá trocos na registadora sendo necessário esperar pela reposição dos mesmos? Não. Nada disso. Aparece uma empregada nova, em idade e no posto de trabalho. A empregada que está de serviço explica à recém-chegada o funcionamento da caixa e coloca-a a praticar sob a sua supervisão. Lentamente, o atendimento decorre sem mais incidentes. Coloco os meus produtos sobre o balcão, está quase na minha vez. Pago e saio chateada a pensar qual será a estranha razão que justifica o facto de haver sempre atrasos na “minha” caixa.
Nesse momento, apercebo-me que me esqueci de comprar o que realmente necessitava e me tinha levado até ao supermercado. Ainda dou um passo atrás mas desisto. Não me sinto com coragem para passar pela mesma situação uma terceira vez.