terça-feira, 26 de junho de 2007

Incompatibilidades


Fui sempre uma criança obediente e ainda hoje sou, geralmente, uma adulta bem mandada. Mas devo confessar que tenho uma total incompatibilidade com agentes da autoridade.
Quando um agente da autoridade me interpela e me diz com um misto de mal disfarçada felicidade e de informação paternalista “A senhora condutora tem aqui um problemazito…” eu devia procurar a minha voz mais doce e perguntar inocentemente “A sério, senhor guarda? Eu peço imensa desculpa, mas é que … (espaço para uma qualquer patranha adequada à situação)” mas em vez disso, respondo insolentemente “Já vi que está com vontade de me multar. Vá, diga lá o que é que conseguiu encontrar…” E, obviamente, em poucos segundos, sou informada da quantia a desembolsar.
Sofro, também, de uma incompatibilidade profunda com os imbecis que, sem qualquer necessidade, estacionam nos lugares reservados a deficientes apenas porque, por razões óbvias, se localizam mais próximo da entrada. Apetece-me insultá-los e fazer-lhes notar a sua falta de: civismo, educação, respeito, sensibilidade e o excesso de: estupidez, egoísmo, arrogância, desrespeito. Consigo controlar-me e não fazer mais do que olhar fixamente para a viatura estacionada e para a sinalização numa tentativa (frustrada) de lhes dar a entender o disparate que fizeram. Mas este tipo de condutor não costuma ter inteligência que lhe permita entender estas subtilezas. A vantagem desta minha segunda incompatibilidade é que me é menos dispendiosa do que a primeira, pois, caso contrário, ver-me-ia com sérias dificuldades financeiras devido à excessiva frequência com que me ocorre.
Mas grave mesmo é quando me deparo com uma situação de 2 em 1. Ou seja: o veículo que está estacionado no lugar reservado a deficientes pertence à GNR ou à PSP e, como se não bastasse ocupar um lugar, está estacionado de forma a ocupar dois. Nestes casos tenho de fazer um esforço enorme para raciocinar e manter-me calada pois apetece-me dizer aos senhores agentes que têm de fazer uma revisão do código da estrada, que para ficar de porta aberta a relaxar antes de partir à caça de mais umas multas podiam fazê-lo num outro lugar e deixar aqueles para quem, de facto, possa precisar, que um pouco de civismo é fundamental e que deveriam ter um comportamento que pudesse servir de exemplo, pois só assim poderão, realmente, merecer o respeito e a designação de agentes da autoridade.
Mas tenho de me manter calada, sob pena de ser acusada de desacato à autoridade, e a sensação de injustiça e impotência que essa imposição me provoca tem a capacidade de me estragar o dia.