sábado, 17 de dezembro de 2005

Elogio das pequenas coisas


Não é por ser Inverno e estar muito frio… ou pelo menos não é só por isso. Acho que apesar do ar bonacheirão e por vezes desleixado, as pantufas são bonitas, aconchegantes, boas confidentes e 100% confiáveis.
Quando falamos delas vem-nos, imediatamente, à ideia a imagem de um marido barrigudo e monótono, sentado no
sofá, a assistir a um jogo de futebol e a beber cerveja, segurando com a outra mão o telecomando. Ou a senhora de idade avançada que faz croché enquanto assiste emocionada às dez telenovelas do dia. Sei que lhes falta glamour e sensualidade e que não fazem parte dos objectos modernos e com muito estilo que nos gabamos de ter e mostramos às amigas para ficarem verdes de inveja. Também não me consta que tenham um lugar de destaque nas revistas dedicadas à colecção Outono/Inverno ou nos grandes desfiles de moda. Mas quem mais nos atura de manhã, com os olhos semicerrados, despenteados e um terrível mau humor, a implicar com este mundo e até com o outro, se existir? Quem nos espera, pacientemente, ao lado da cama, e nos aconchega os pés e o ego fazendo-nos ver que o mundo não é assim tão cruel e ainda há algo em que podemos confiar? Não refilam quando as maltratamos ao calçar, quando as trocamos constantemente de pé ou quando as descalçamos como se estivéssemos a tentar não falhar um penalti. Fazem-nos companhia, ouvem as nossas queixas e dançam connosco quando estamos felizes ou nos esforçamos para ficar. Acredito que até nos limpariam as lágrimas, se pudessem.
Eu não sei se as minhas são mais obedientes do que as suas semelhantes mas nunca se afastam. Já consegui perder quase de tudo, ou pelo menos perder de vista por algum tempo, mas as minhas pantufas não, exceptuando uma meia dúzia de vezes em que quase desapareceram no sofá ou debaixo de algum móvel, o que é muito bom dentro da minha média.
Existem de vários modelos e cores, de acordo com os gostos, personalidades e resistência ao frio de cada um. Existem as que têm tons sóbrios ou suaves e as garridas, as leves e as extremamente aconchegantes.
As minhas são garridas e muito quentes e, numa altura em que tenho tão poucas certezas, gosto de saber que ao acordar estão lá, uma ao lado da outra, a uma distância de cerca de 15 cm entre elas e a outros tantos da cama ou do local onde eu estiver, a do pé esquerdo onde colocarei o pé direito e vice-versa. Sempre!