domingo, 26 de agosto de 2007


sobre.... a insignificância


Regressar a um local que outrora conheci, e abandonei durante anos, tem o condão de me dar a saber a medida exacta da minha insignificância.
Quando, à chegada, avisto a degradação dos prédios que já então ameaçavam ruir, a cal branca quase ausente das paredes ou a calçada gasta pelos transeuntes penso que nada mudou (Claro que não! Quem se atreveria a fazer alterações na minha ausência?!).
Decido, então, visitar os espaços que era “os meus” e, por momentos, inverter o sentido dos ponteiros do relógio.
Na cafetaria que servia uma bica deliciosa, em vez de expositores com inúmeras variedades de chás e cafés, existem agora folhetos com imagens de praias, monumentos e camelos a caminhar, resignadamente, no deserto. O sorriso da nova empregada já não vende bons momentos com sabor a café mas promessas de férias inesquecíveis.
A pequena tasca, muito modesta mas com comida caseira deliciosa e em conta, onde o sorriso da proprietária e cozinheira era o acompanhamento perfeito, deu lugar a mais uma casa de pizas, hambúrgueres, sandes e afins, servidos a velocidade de cruzeiro por empregados–robô que atendem sem olhar para o cliente.
Na livraria, caríssima mas com uma oferta fabulosa, já não podemos encontrar o conforto que só o papel e uma belíssima história oferecem e encontramos, agora, sonhos de betão a preços exorbitantes.
Os rostos que se cruzam comigo na rua são outros… Quando revejo algum que reconheço, apesar das incontornáveis marcas do tempo, apetece-me agradecer-lhe por se manter no mesmo lugar e perguntar-lhe o que aconteceu, quem permitiu que o tempo passasse por ali sem me consultar…