Quando faltam dez p’rás sete na planície, nas serras são sete menos dez.
Na planície o sol acorda e revela-se por inteiro. Nas serras espreita lá no cume e começa a descer lentamente pela encosta, criando uma paleta de cores variadas.
Enquanto sigo pela estrada em linha recta, o pensamento liberta-se e usufruo da paisagem que se perde de vista na planície dourada. Já nas serras, o percurso ondulante e o verde imponente têm um efeito inebriante.
As manhãs de Domingo, na planície, são calmas e quase desertas enquanto que, nas serras, o silêncio dominical é quebrado pelo burburinho das famílias que se dirigem para a igreja, onde cumprem o dever de ouvir as sábias palavras do pároco da aldeia.
Fiquei a saber que existem dois fins de mundo, pois em ambos os locais me falam do outro: aquele de onde vim ou para onde vou.
Distraidamente, apaixonei-me pelas palavras e expressões regionais e uso-as com a mesma naturalidade com que calço as sapatilhas para ir comprar padas ou uma nata na padaria que fica mesmo à beira da minha casa. Na planície vou à da minha irmã e juntas tomamos uma bica enquanto confesso que na hora de abalar acho sempre que o tempo não foi avondo para matar as saudades.