quarta-feira, 26 de julho de 2006

velhos são (só) os trapos?


Aos (alegados) eufemismos redutores e cheios de comiseração de alguns respondem outros com a rudeza das palavras, pretendendo mostrar igualdade.

Convencionou-se que “velhos são os trapos” e as pessoas de idade avançada não são velhas mas sim idosas.

Corrigiram-me, algumas vezes, e entendi que podia chamar velho ao armário ou a um brinquedo mas não ao tio-avô ou ao vizinho. Pareceu-me, por isso, sempre natural que se diga que faleceu, desapareceu ou se comemora o aniversário de um idoso de 98 anos e não de um velho da mesma idade.

Nos últimos tempos (leia-se anos) tenho ouvido ou lido muitas vozes dissonantes que consideram que usar o termo “idoso” é uma condescendência envergonhada de uma sociedade que maltrata os seus velhos. Estes usam “velho” como oposição a novo - o que me parece coerente - mas também como oposição a criança, adolescente ou adulto e a insistência em nunca usar “idoso” parece-me tão cruel, e ao mesmo tempo cheia de remorsos, como o desprezo com que o fazem os que procuram as palavras doces e politicamente correctas.

Vincent van Gogh. Old Man in Sorrow