terça-feira, 20 de junho de 2006

TPC - tempo para convívio

O Ministério da Educação propôs que os trabalhos de casa sejam realizados na escola e os pais e encarregados de educação aplaudiram. Todos alegam razões muito nobres:
- terminar com um factor de discriminação, pois há crianças cujos pais não têm capacidade para fazer o acompanhamento das tarefas escolares;
- maior competência dos professores para a realização desta tarefa, nomeadamente, no que respeita à aquisição de métodos de estudo adequados;
- evitar a sobrecarga das crianças que, após um dia aulas e frequentemente outras actividades extra-curriculares, chegam a casa extenuadas;
- dar às famílias a possibilidade de usufruir de um tempo de qualidade com os filhos, evitando o desgaste que a realização conjunta dos trabalhos escolares provoca.
À primeira vista, até parecem boas razões para que os malfadados trabalhos sejam realizados na escola mas esse tempo que passa a estar à disposição das famílias para convívio familiar será, de facto, aproveitado? Ou será apenas mais tempo dedicado às telenovelas e ao futebol, por parte dos pais, e à PlayStation, aos Morangos e às conversas em chats, por parte dos filhos? É inegável que esta situação simplificará a vida aos encarregados de educação que deixarão de ser alertados para o facto de os filhos não realizarem os trabalhos de casa. É óbvio que muitas famílias aproveitarão para se sentirem ainda mais desresponsabilizadas se a criança não está a responder de forma positiva às aprendizagens. Afinal… essa responsabilidade cabe à escola… Quando penso nesta questão, não consigo deixar de estabelecer um paralelo com os casais divorciados. Passo a explicar.
Toda a gente conhece as queixas de uma mãe divorciada que trata da educação do(s) filho(s) sozinha e que embora solicitando a presença ou ajuda do pai não vê este pedido realizado mas que se confronta com a felicidade do filho que, após ter sido deixado esquecido durante semanas, entra em casa radiante com a bicicleta nova que o pai lhe ofereceu. Aquela bicicleta que a mãe tencionava oferecer apenas no próximo Natal, se o comportamento e o aproveitamento escolar fossem merecedores, mas que o pai lhe ofereceu apenas para se redimir das suas ausências.
A escola passará, desta forma, a ser a mãe presente que exige, que educa, que ensina que é preciso esforço para merecer aquilo que se deseja. A família continuará a ser eternamente o pai ausente que apenas quer saber as notícias felizes, que oferece prendas, que dá a ilusão de que tudo se alcança sem que seja necessário lutar para isso.
Será desta forma que as crianças se aproximarão da essência da escola e atingirão todos os ensinamentos que se pretendem transmitir? Não creio…
foto de Robert Doisneau