domingo, 3 de junho de 2007

“Este romance é uma viagem alucinante pelos labirintos do desejo e da solidão, que nos arrasta para lá das convenções dos géneros e do sexo, conduzindo-nos ao conhecimento da vertigem. A escrita transparente e comunicante de Patrícia Reis ganha corpo e espessura nesta narrativa polifónica orquestrada pela obsessão do Grande Amor – aquela luz infinita que simultaneamente cega e acende a verdade íntima de cada um de nós. Este livro morde-nos, de facto, o coração – e é para isso que servem os bons livros.” apresentação de Inês Pedrosa


“A questão não é saber se o amor nos aconteceu. Isso é tão relativo que o silêncio é melhor. Percebe-se melhor. Naqueles dias eu achava que não éramos nada, tu e eu. (…) Podíamos rir e chorar, contar as desventuras da adolescência, as maldades paternas, tudo. Podíamos sem consequências, porque nada do que te disse era verdade e, por isso, me poupava nas palavras para não te castigar com tantas mentiras.
Tudo o que passámos, naqueles dias, não era definitivo, não tinha coordenadas futuras, seria, por fim, o crescendo que iria morrer de repente. Olhava-te no sono e pensava que sabia exactamente a data em que o amor se iria desfazer.
A ilha estava congelada no nosso abraço. Nos teus pensamentos era tudo o que fazia sentido. Eu tinha um prazo. Uma vida à minha espera, um regresso feito de poucas memórias. Ficarias em terra, náufrago de mim, sem perceber os destroços de nós. (…)
Não tenho coração, pensava nas noites em que ficávamos a olhar o reflexo da lua no atlântico. (…)
Hoje, quero que saibas que não te disse nada e quando te pedi para me morderes o coração era só para me certificar de que ele existia no meu peito. Tu preferiste beijar-me, nunca me mordeste e, assim, fiquei sem saber.” (pp. 16-17)
Morder-te o coração,
Patrícia Reis