David Kepesh, professor e crítico de arte, de mais de sessenta anos, tem um comportamento bastante libertino no que se refere às mulheres. Habituado a envolver-se, sem compromisso, com as suas (ex-) alunas apaixona-se, inesperadamente, de forma obsessiva por Consuela, de apenas 24 anos.
Este breve romance vai desde a descrição quase pornográfica da relação entre ambos até ao levantamento de questões sobre a paixão, o amor, o ciúme, o envelhecimento e a sua (não) aceitação, a doença e a morte, as convenções sociais, em suma: a fragilidade do ser humano.
Este breve romance vai desde a descrição quase pornográfica da relação entre ambos até ao levantamento de questões sobre a paixão, o amor, o ciúme, o envelhecimento e a sua (não) aceitação, a doença e a morte, as convenções sociais, em suma: a fragilidade do ser humano.
“Há que fazer uma distinção entre morrer e a morte. Nem tudo é morrer ininterruptamente. Se somos saudáveis e nos sentimos bem, vamos morrendo invisivelmente. O fim, que é uma certeza, não tem de ser arrojadamente anunciado. Não, não podemos compreender. A única coisa que compreendemos acerca dos velhos é que foram marcados pelo seu tempo. Mas compreender apenas isso imobiliza-os no seu tempo, o que equivale a não compreender nada.” p. 38
“O ciúme: esse veneno. E sem motivo. Ciumento mesmo quando ela me diz que vai patinar no gelo com o seu irmão de dezoito anos. Será ele que a leva, que ma rouba? Com estes obsessivos casos amorosos deixamos de ser a pessoa confiante que éramos, não o somos quando estamos no seu vórtice e também quando a rapariga tem quase um terço da nossa idade. Sinto-me ansioso se não falo com ela ao telefone, todos os dias, e volto a sentir-me ansioso depois de falarmos. (…) Mas quando, raramente, há um dia em que consigo disciplinar-me o suficiente para não falar com ela, não lhe telefonar, não a lisonjear, não soar a falso, não ficar ressentido com o que, inconscientemente, ela me faz, é ainda pior. Não consigo parar de fazer seja o que for que esteja a fazer, e tudo quanto faço me deixa transtornado. Não sinto, com ela, a autoridade necessária à minha estabilidade, e no entanto ela procura-me por causa dessa autoridade.
Nas noites em que não está comigo transtorna-me pensar onde poderá estar e o que estará a fazer. No entanto, até mesmo depois de ela ter passado o serão comigo e ido para casa, não consigo dormir. A vivência dela é demasiado forte. Sento-me na cama e, no meio da noite, grito: “Consuela Castillo, deixa-me em paz!” Basta, digo a mim mesmo. Levanta-te, muda os lençóis, toma outro duche, livra-te do cheiro dela e depois livra-te dela. Tem de ser. A relação com ela tornou-se numa campanha infindável." (pp 40-41)
“O ciúme: esse veneno. E sem motivo. Ciumento mesmo quando ela me diz que vai patinar no gelo com o seu irmão de dezoito anos. Será ele que a leva, que ma rouba? Com estes obsessivos casos amorosos deixamos de ser a pessoa confiante que éramos, não o somos quando estamos no seu vórtice e também quando a rapariga tem quase um terço da nossa idade. Sinto-me ansioso se não falo com ela ao telefone, todos os dias, e volto a sentir-me ansioso depois de falarmos. (…) Mas quando, raramente, há um dia em que consigo disciplinar-me o suficiente para não falar com ela, não lhe telefonar, não a lisonjear, não soar a falso, não ficar ressentido com o que, inconscientemente, ela me faz, é ainda pior. Não consigo parar de fazer seja o que for que esteja a fazer, e tudo quanto faço me deixa transtornado. Não sinto, com ela, a autoridade necessária à minha estabilidade, e no entanto ela procura-me por causa dessa autoridade.
Nas noites em que não está comigo transtorna-me pensar onde poderá estar e o que estará a fazer. No entanto, até mesmo depois de ela ter passado o serão comigo e ido para casa, não consigo dormir. A vivência dela é demasiado forte. Sento-me na cama e, no meio da noite, grito: “Consuela Castillo, deixa-me em paz!” Basta, digo a mim mesmo. Levanta-te, muda os lençóis, toma outro duche, livra-te do cheiro dela e depois livra-te dela. Tem de ser. A relação com ela tornou-se numa campanha infindável." (pp 40-41)
O Animal Moribundo, Philip Roth