segunda-feira, 31 de março de 2008



tertúlias, literatura e WC



Há quem se surpreenda com a emergência de tantas jovens “escritoras” e tantas publicações de lavra feminina nos escaparates das livrarias. Apenas compreendo este espanto se for proveniente de alguém que não frequente WCs femininos em escolas, universidades, cafés, áreas de serviço de norte a sul do país. Talvez apenas as mulheres possam compreender de que falo…
Na maior parte das vezes em que uma mulher se desloca a uma casa de banho é brindada com portas repletas de frases de auto (e hetero) ajuda, pérolas da sabedoria popular adaptadas ou não, rimas à moda de António Aleixo, poemas plagiados ou recriados pelas próprias, declarações de amor e paixão tresloucadas capazes de nos fazer corar perante a pequenez dos nossos sentimentos.
Desta forma, as casas de banho das senhoras tornam-se em locais de enriquecimento cultural e potenciais promotores de profunda reflexão. Para além de discussões filosóficas sobre o rímel, o blush ou o eyeliner, podem aí desenrolar-se autênticas tertúlias literárias.
Tenho a certeza de que há muita gente que nunca concluiu a leitura de um livro, nem mesmo de uma revista, não entrando para as estatísticas de leitores assíduos, e já leu dezenas ou talvez centenas de portas de WC… quem sabe até colaborou deixando um dos comentários opinativos ou contestatários que também por lá se encontram em abundância…
Considero, por isso, que as portas de WC não deveriam continuar a ser ostracizadas pela população em geral. Se existe o dia mundial do livro ou o dia internacional do livro infantil (que esta semana se assinala) por que razão não se assinala, também, o dia da literatura das portas de WC? Seria muito menos elitista e mais próximo do país real.




domingo, 30 de março de 2008



do Alentejo profundo...





pequenas coisas que me dão prazer (1)

... conduzir algumas centenas de quilómetros a ouvir rádio e... comprar o Público de domingo ...

quinta-feira, 27 de março de 2008


a voz dos outros (1)


- ‘Tão o tê rapaz?
- ‘Tá lá pra casa. Tomara já começar a escola… é mesmo caro de lidar, o raio do rapaz!
- É comó meu! ‘Tão as professoras descansadinhas em casa e a gente é qu’os tem qu’aturar!
- Ora não. Isso é qu’elas querem… e a gente qu’os aguente…






eu e os meus botões (3)


Toda a gente opina, tem certezas, apresenta um rol de argumentos inquestionáveis. Ninguém diz “talvez”, “é possível”, “não tenho uma opinião formada”. Cansei-me!
Hoje prefiro ficar com dúvidas e incertezas. Não me interessam os factos nem a validade dos argumentos. A realidade incomoda-me, as opiniões fundamentadas saturam-me.
Hoje, e só hoje, podem perguntar-me o que quiserem que eu darei o meu contributo para engrossar a percentagem dos “sem opinião”, onde também estão incluídos os que têm uma “opinião demasiado complexa para poder responder”.




sexta-feira, 21 de março de 2008

Sono coloquial

Da velhice
sempre invejei
o adormecer
no meio da conversa.

Esse descer de pálpebra
não é nem idade nem cansaço.

Fazer da palavra um embalo
é o mais puro e apurado
senso da poesia.

“Sono Coloquial” - Mia Couto
Idades cidades divindades

segunda-feira, 10 de março de 2008


Clã - "Sexto andar"