terça-feira, 31 de janeiro de 2006

o meu mundo vazio de palavras



Com alguma frequência passo pelos meus momentos de silêncio. São momentos em que me distancio das palavras, sejam pela via oral ou escrita, sejam proferidas por mim ou apenas escutadas na voz dos outros. Todas me incomodam igualmente. Invento dores de cabeça que não tenho ou preocupações banais que não me ocupam para justificar a ausência ou para evitar um assentimento sorridente ao que me dizem mas não escuto. Todas as vozes me agridem por exigirem uma atenção que não lhes quero dar. Até a leitura, que tantas vezes é o meu único refúgio e apetecida companhia, me incomoda porque me distrai de mim. Perco-me no tempo que só vejo passar enquanto conto os minutos que faltam para que me seja possível reconstruir o meu muro e estar a sós comigo e o meu mundo vazio de palavras.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Vou comprar o Ronaldinho!

Não, não sou fanática por futebol. Aliás, o futebol não me interessa minimamente e o único que sei em relação a este desporto é que se pretende marcar golos na baliza do adversário. No entanto, não entendo que esta razão seja suficiente para andarem 22 homens a correr entusiasticamente atrás da mesma bola. Para ser franca, nem acho correcto que só haja uma bola para todos. Penso sempre para comigo que seria muito mais justo e agradável, para jogadores e público, se houvesse 22 bolas em campo. Cada jogador teria a sua, o que significa que cada um deles jogaria muito mais e teria mais possibilidades de se exibir, justificando desta forma os chorudos ordenados que auferem e a multidão de fãs que mobilizam. Desta forma não seria um desporto de equipa??? Pois é! Distracções de uma individualista assumida…
Porque vou, então, comprar o passe do Ronaldinho? Li na revista Visão da última semana que o prémio do euromilhões, na altura era de 125 milhões de euros, daria para
a) pagar 12,5 vezes tudo o que os candidatos presidenciais gastaram, em conjunto, nesta campanha eleitoral;
b) comprar a Casa da Música;
c) comprar o Estádio do Sporting;
d) pagar o empréstimo do Banco Europeu de Investimento à Hungria, para a modernização das redes de transporte e de distribuição de electricidade no país;
e) comprar o passe do Ronaldinho.

Analisemos cada uma das hipóteses.
a) as presidenciais ficaram resolvidas à primeira volta. Só haverá novas eleições presidenciais daqui a cinco anos e não me apetece ter o dinheiro parado tanto tempo.
b) a casa da Música vi-a uma vez. A uns metros de distância não me pareceu mal. Mas supõe-se que a Casa da Música contribua para a vida cultural do país e em particular do Porto, não é? Vida cultural? O que é isso? Para quê? Para quem?
c) quanto ao estádio do Sporting, muito francamente, não me apeteceria ter de investir na recuperação dos estragos provocados pelos adeptos leoninos e das equipas adversárias, após cada jogo.
d) dívidas da Hungria?!? Só conheço Budapeste das brochuras das agências de viagens ou do livro homónimo de Chico Buarque. Não tenho nada a ver com isso!
e) por exclusão de partes, e sem qualquer argumento válido devido à minha ignorância no ramo, resta-me comprar o passe do Ronaldinho e acreditar que farei um bom negócio.

Mas antes, não posso esquecer-me de jogar!


dúvida...


Com tanto que se fala das presidenciais e tantos esforços que se fazem para entender os resultados eleitorais e fazer futurologia, surge-me uma dúvida: alguém fez um estudo que indique qual a percentagem de eleitores que exerceu o seu direito de voto, suficientemente, esclarecida e sabendo de facto o que estava a fazer?

amanhecer


Abri a janela e, do outro lado, encontrei para me receber um dia opaco e sem vida. As casas e as árvores de contornos indistintos adquiriram por osmose o tom cinza e baço que as rodeia. Receei integrar-me naquela paisagem unicolor e tristonha. Fechei a janela e rodeei-me de luz, cor e música, criando uma barreira fictícia entre o meu espaço e o mundo exterior.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Sabedoria impopular 2




O que os olhos não vêem...
... o coração pressente.


domingo, 22 de janeiro de 2006

véspera de segunda-feira

fotografia de Robert Doisneau

sábado, 21 de janeiro de 2006

na vida como num filme

Por vezes imagino a minha vida como um filme que está a ser rodado e exibido em tempo real.
Nesse filme há um narrador omnisciente que conhece e dá a conhecer todas as situações, sem omitir qualquer pormenor. Conhece-me perfeitamente e também a todas as personagens que comigo contracenam. Conhece os nossos defeitos e qualidades, os nossos vícios, sonhos, medos e ambições. Sabe quais são os nossos sentimentos e pensamentos mais secretos. Muitas vezes, compreende aquilo que não entendemos ou que recusamos entender.
Quem assiste ao filme sabe quem são os bons e os maus, os hipócritas e os sinceros, quais as razões que nos movem, onde estão a mentira e a verdade. Sabe quando temos ou não razão, quando somos injustos, quando magoamos ou quando nos arrependemos desnecessariamente. Vê os nossos desencontros, as oportunidades que desperdiçamos, torce por nós e por vezes sussurra-nos, inutilmente, que caminho devemos seguir.
De tempos em tempos, acontece-me querer sair da tela e sentar-me por alguns minutos no meio do público anónimo. Assistir ao filme, apoderar-me do conhecimento que me falta e depois correr para dentro do ecrã e ocupar o meu lugar para que o filme tenha um final feliz.


poema cantado



Bom conselho

Ouça um bom conselho
Que lhe dou de graça
Inútil dormir
Que a dor não passa.
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado
Quem espera nunca alcança

Ouça meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com o meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai ao longe
Eu semeio o vento na minha cidade
Vou p’rá rua e bebo a tempestade.


Chico Buarque de Hollanda